Recentemente um amigo me revelou ter passado por uma depressão contundente, daquelas que nos tira do ar, nos afasta de todos, da produção individual e coletiva.
Sei bem como é, já estive nesse lugar, perdemos o colorido, tudo fica em tons de cinza e tem nada a ver com o famoso filme, muito pelo contrário, nossa libido, nossa agressividade, energia para realizar se esvai.
Depois da conversa comecei a refletir o porquê, dele e muitas outras pessoas que do “nada” caem, deprimem a vida?
A questão é o descanso, uma reminiscência da leitura da “Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han? É bem possível, mas mais que isso, rememorei o que eu mesmo passei, acionei a lembrança de figuras públicas, meus conhecidos e amigas que passaram por isso, alguns ainda passam…
Quem vê de fora não consegue imaginar, como alguém em pleno caminho de sucesso, repleto de conquistas, famílias bacanas, enfim aquele perfil que quem não sabe a extensão da depressão duvida da própria existência dessa doença. Eu passei por isso com pessoas bem próximas: “É frescura!”. Não é!
O que nos leva a esse estado de saúde, individualmente cada um terá seu motivo e por isso a terapia é tão importante, mas coletivamente posso dizer um muito importante: o cansaço mental. Parece simples, quando estamos muito cansados fisicamente, alguns tomam banho e descansam, dormem ou até lançam mão de um relaxante muscular, mas e o cansaço mental o que fazer? Esse não é um assunto abordado em nossa educação ou usos e costumes.
Quando o mundo tinha regras claras, quase uma cartilha de viver (escola, profissão, emprego, casamento e aposentadoria), tudo era muito mais “esperado”, assim como o horário de trabalho, escola dos filhos, finais de semana e férias. As pessoas trabalhavam os seus períodos e muitos faziam o “happy hour” no final do dia. Cansávamos o corpo e a mente, porém os descansávamos com os papos e alguns com os tragos. A preocupação era o alcoolismo, o sobrepeso e eventualmente a diabetes, mas não se falava em depressão ou ansiedade, burnout era completamente desconhecida, já “bon vivant”, “savoir faire”, boemia, eram ditas de boca cheia com desejo. Continuamente, já no final dos anos 90 apareceu o (movimento) “slow” antecipando o que viria em contraponto ao “fast”.
De fato, os tempos mudaram, o “fast” chegou e as pessoas agora têm medo de tirar férias e raramente tem o happy hour, mesmo porque os horários de trabalho se tornaram “flexíveis”, em realidade eles forma esticados e levados para casa, nos home offices. O século 21 é marcado por dias longos, quase sem luz solar e noites solitárias, o happy hour substituído pelas postagens e longas navegadas em mídias sociais, o sol, a contemplação viraram fotografias de outros, as férias se tornaram acontecimentos e precisam ser registrados a todo instante, não sobrando tempo para descansar a mente…
Conta-se que Diógenes, o filósofo epicurista, foi interpelado na rua onde vivia pelo Imperador Alexandre, o Grande para que o seguisse e o ensinasse sua sabedoria e pedisse o que quisesse por isso, ele simplesmente declinou o convite e ainda solicitou que o imperador deixasse de bloquear a luz do sol em seu corpo.
Trago essa pequena passagem para ilustrar o distanciamento que estamos da tal felicidade, que resumo simplesmente como um estado de satisfação. Diógenes abdicou dos bens materiais para viver uma vida voltada ao que é prazeroso, no sentido de ter prazer em viver, em aproveitar o melhor da vida.
Particularmente hoje acredito que é possível equilibrar material e não material, bens e espiritualidade. É preciso encontrar um balanço entre o que se faz para viver e o que se vive para fazer, entre ganhar a vida e ter prazer com ela.
É preciso urgentemente que nos apoiemos em sermos mais contemplativos, em ter mais horas de fazer nada, é preciso parar de julgar o próximo e a si mesmo, é preciso descansar a mente, senão a depressão virá para que, compulsoriamente, você encontre tempo para cuidar de você!